Fórum Social Mundial: tradução e desenvolvimento sustentável
Judith Hitchman, abril 2007
Um dos desafios chave do Fórum Social Mundial é o da herança que irá transmitir, se é que haverá uma herança. Quais os impactos imediatos ou de longo prazo, em termos de desenvolvimento sustentável? É certo que as reuniões têm lugar, permitindo que as redes mundiais cresçam e se desenvolvam, quer se trate da escala regional como os Fóruns Sociais Africano ou Europeu, quer do Fórum Social Mundial global. Mas é extremamente difícil medir o impacto concreto no terreno, no plano local, de um acontecimento como este.
Esta contribuição não pretende medir os efeitos de conjunto do FSM 2007, que teve lugar em Nairobi, no que se refere ao desenvolvimento local sustentável. Coloca em destaque um efeito paralelo.
Um aspecto chave de todo o Fórum é a tradução linguística.
Trata-se de uma dimensão incontornável da comunicação intercultural. Num mundo globalizado, trata-se frequentemente da alavanca que possibilita que as coisas ultrapassem as fronteiras e interfiram nas diferentes comunidades.
No período que antecedeu o FSM, e fruto do excelente recrutamento levado a efeito pela Comissão de Tradução do Comité Organizativo do Quénia, cerca de 450 pessoas ofereceram-se como voluntárias para participarem numa breve formação de técnicas de tradução. O que distingue este FSM dos anteriores é a enorme diversidade da origem dos seus participantes. Abrangiam um leque que ia dos intérpretes profissionais e tradutores a professores universitários ou de outros ramos de ensino, passando por religiosos. E é preciso lembrar que as igrejas desempenham frequentemente um papel histórico de intervenção social na África Oriental. Estes elementos eram prioritariamente do Quénia e da Tanzânia Um número significativo de refugiados políticos estavam também presentes, vindos do Burundi, do Ruanda e do Congo, país com um número significativo de refugiados no Quénia, hoje em dia. Durante o Fórum juntaram-se grupos de intérpretes vindos do Senegal, do Mali, bem como um pequeno grupo da Europa.
Este processo produziu efeitos muito para lá das competências específicas no que se referem ao próprio Fórum. Criou um grande interesse no plano local. O Ministério da Justiça, o Alto Comissariado para os Refugiados das Nações Unidas e diversas ONG exprimiram o seu interesse em disponibilizar fundos para a organização e a acreditação de Intérpretes Comunitários, capitalizando as capacidades manifestadas na ocasião.
A tradução Comunitária é uma ideia interessante.
Permitirá aos solicitadores de asilo, aos refugiados e às comunidades provenientes de minorias étnicas beneficiarem do apoio de um intérprete no decurso de processos legais, de questionários policiais bem como de contactos com os serviços sociais e de saúde. Ou seja, permite uma representação independente e uma audição justa. Como tal, num mundo confrontado com tantas deslocações de populações e tantas imigrações significativas, com a presença de comunidades étnicas minoritárias, esta nova profissão pode ser um factor de integração mais justo. Vários países, como a Austrália, o Reino Unido e a Irlanda do Norte em particular, bem como a República da Irlanda já introduziram os intérpretes comunitários credenciados.
A futura formação está actualmente numa fase de concepção e recrutam-se futuros participantes. Se, como esperamos, tiver o seu lançamento em Nairobi, este Fórum terá deixado uma verdadeira herança, já que terá permitido mostrar a utilidade de uma tal formação. Uma herança com forte significado, porque irá permitir uma maior audição da voz das comunidades, reforçando as possibilidades das pessoas em busca de asilo e dos refugiados do Quénia. Será uma forma, entre outras, de encorajar a integração das comunidades e de lhes assegurar um futuro melhor no seu novo país de adopção.
Fontes :
Este artigo está disponível no blog: Boletim Internacional de Desenvolvimento Local Sustentável