ECONOMIA SOLIDÁRIA: A PRODUÇÃO DOS SUJEITOS (DES)NECESSÁRIOS
Tese de Doutorado em Serviço Social Doutorado em Serviço Social, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil
Karen EIDELWEIN, noviembre 2009
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Resumen :
As mutações contemporâneas da relação capital-trabalho caracterizam-se por processo de acumulação cada vez maior pela via da mais-valia relativa. Tem-se a diminuição dos postos de emprego formal e o aumento do número de trabalhadores desempregados que podem ser considerados (des)necessários ao processo de produção. Nesse contexto, a Economia Solidária surge como uma estratégia de resistência e enfrentamento às expressões da questão social, reunindo ações de geração de trabalho e renda sustentadas na democracia, autogestão,
cooperação e solidariedade. A partir da Teoria da Análise do Discurso de Michel Pêcheux, caracteriza-se a Formação Discursiva da Economia Solidária, organizada pela forma-sujeito indivíduo livre, de direitos e coletivo-solidário que é compreendida como a materialidade de formações ideológicas capitalistas e socialistas. Os discursos da referida formação discursiva são marcados pela contradição entre a reprodução e a transformação das relações sociais de produção. Discute-se como, a partir da formação discursiva em questão, ocorre o agenciamento de subjetividades singulares-coletivas capazes de dar sustentação simbólica à própria Economia Solidária. O corpus da pesquisa abarca a análise dos discursos enunciados pela I Conferência Nacional de Economia Solidária, a partir da qual se identificam quatro efeitos de sentido sobre a Economia Solidária: um mod o de organização da produção, distribuição e consumo, baseado na propriedad e e gestão coletiva dos meios de produção e dos bens e/ou serviços produzidos; um movimento social; uma estratégia de desenvolvimento social includente e uma política pública de Estado. A partir da articulação dos sentidos identificados, pode-se dizer que a I CONAES se apresenta como uma modalidade de posição-sujeito totalmente identificada com a forma-sujeito que caracteriza a Formação Discursiva da Economia Solidária. Os
discursos da I CONAES centram-se nas possibilidades de transformação das relações sociais de produção, sem fazer referência aos aspectos relativos à reprodução de tais relações, o que pode ser compreendido
como um efeito da própria interpelação ideológica sofrida pela Conferência. Dessa forma, considera-se
que essa não apresenta possibilidade de ruptura com a Formação Discursiva na qual se encontra inserida. As possibilidades de transfor mação social presentes no discurso da I CONAES apontam para o agenciamento de subjetividades capazes de oferecer sustentação para a própria Economia Solidária. Porém, tais possibilidades
de composições subjetivas não apontam para a constituição de outra forma-sujeito, representativa de outra formação discursiva que possa ser considerada materializadora de uma formação ideológica capaz de levar à superação da sociedade capitalista. O rompimento com a própria formaç ão discursiva da economia
solidária na direção de outra formação discursiva, representativa de outra formação ideológica, talvez só seja possível na medida em que os discursos da formação discursiva abarquem tanto a transformação quanto a reprodução das relações sociais de produção.