Negócios Solidários em Cadeias Produtivas: Protagonismo Coletivo e Desenvolvimento Sustentável
Luiz Eduardo Parreiras, Ipea, Anpec e Fundação Banco do Brasil, 2007
Nas últimas décadas, houve um significativo aumento no número das iniciativas socioeconômicas coletivas que visam promover a cooperação ativa entre trabalhadores ou produtores autônomos e familiares, nas áreas urbanas e rurais, para viabilizar atividades de produção, de prestação de serviços, de crédito, de comercialização e de consumo. Em sua maioria,essas iniciativas são fomentadas como alternativas ao desemprego, como oportunidades de inclusão social e como estratégias de dinamização de cadeias produtivas que têm por base a produção familiar no âmbito de processos de desenvolvimento local ou territorial sustentável.
Apesar de alguns avanços, a viabilidade desses empreendimentos econômicos solidários permanece um grande desafio.Além dos limites de acesso a recursos e investimentos necessários para organizar a produção e para acessar os mercados, existem também dificuldades internas na gestão dos negócios coletivos. São essas as questões motivadoras do livro Negócios Solidários em Cadeias Produtivas, elaborado por Luiz Eduardo Parreiras a partir de pesquisas sobre experiências recentes da Fundação Banco do Brasil na implantação de empreendimentos solidários e sustentáveis de agricultores familiares em cadeias produtivas da apicultura, da cajucultura e da mandiocultura na região Nordeste do Brasil.
A obra apresenta um conjunto de reflexões sobre as condições necessárias à construção da viabilidade econômica e organizativa dessas iniciativas, cujo « horizonte da ação há de ser o domínio da cadeia produtiva ». Trata-se, realmente, de um grande desafio, pois, além da fragilidade da capacidade de produção e da desarticulação entre os elos que constituem cada uma das cadeias produtivas analisadas, o estudo constata a posição de absoluta subalternidade e subordinação dos agricultores familiares e de suas organizações. Enquanto a subalternidade reflete a baixa participação desses produtores no volume das vendas realizadas e nos resultados econômicos alcançados, a subordinação expressa a dependência política, tecnológica e econômica desses produtores em relação às decisões, sobretudo de mercado, que são tomadas em outros espaços e por outros atores.
A análise inicia pela própria concepção e princípios que orientam as experiências analisadas, comparando-as com as de outros programas de combate à pobreza rural, implantados na região Nordeste desde a década de 1970. A pesquisa avança na abordagem das diferentes metodologias de estruturação da agricultura familiar em cadeias produtivas, identificando dois grandes desafios: o domínio do processo de comercialização e o protagonismo coletivo na gestão de negócios solidários.
Em relação ao primeiro, a obra analisa o caráter estratégico do domínio da etapa comercial para que os agricultores familiares organizados coletivamente possam avançar no « exercício da governança da cadeia produtiva », também entendida como « desenvolvimento de uma capacidade de comercialização própria » (página 191). Essa constatação indica a necessidade de investimento na capacidade de comercialização como elemento relevante nas estratégias de dinamização de cadeias produtivas de base familiar.
O outro desafio analisado diz respeito à construção da autogestão, ou seja, do exercício do protagonismo coletivo dos associados como elemento de viabilidade desses empreendimentos. Refere-se tanto à capacidade de tomada de decisões internas, de forma democrática, quanto à afirmação de sujeitos coletivos, ativos e conscientes, com a necessária autonomia nas relações sociais, políticas e econômicas que estabelece com o seu entorno. Nesse aspecto, a formação integral e sistemática é apontada pelo autor como uma alternativa de viabilidade: « considerando-se as diversas áreas de gestão a serem dominadas, o tipo específico de público a ser capacitado, vale dizer, metodologias de formação e capacitação especificamente desenhadas para atendê-los » (página 212).
A descrição dos desafios e a análise de alternativas metodológicas têm como finalidade reafirmar a possibilidade e a importância da estruturação da agricultura familiar em cadeias produtivas como estratégia para dinamização econômica de territórios rurais. Trata-se de uma aposta na sustentabilidade do desenvolvimento em áreas rurais da região Nordeste do Brasil.