Trabalho em moviment’ação’: a formação de movimentos sociais de economia solidária no Brasil e na Argentina pós-90

São Paulo : Integração da América Latina, Université de São Paulo, 2007. Mémoire de Maîtrise en Integração da América Latina.

Vanessa Moreira Sígolo, 2007

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Compendio :

Após mais de duas décadas de abertura política, os altos níveis de desigualdade social, pobreza, desemprego e violência na América Latina demonstram que os novos regimes democráticos não têm correspondido às expectativas de construção de sociedades efetivamente democráticas. O debate sobre democracia, centrado na preocupação com a estabilidade das instituições e os processos formais do sistema político, coloca em plano secundário os movimentos sociais e as relações entre cultura, política e sociedade. No Brasil e na Argentina, de forma praticamente simultânea nos anos 90, trabalhadores criaram organizações econômicas coletivas e autogestionárias, denominadas organizações de economia solidária, em contexto de reestruturação produtiva e de revisão de projetos revolucionários. Esta dissertação analisa a formação de movimentos sociais de economia solidária nestes dois países, partindo do pensamento de Hannah Arendt, especialmente de sua concepção sobre política e sua centralidade, e de Edward Palmer Thompson, no que se refere à construção histórica das coletividades. Ao aproximar o pensamento destes autores, focando a dimensão política dos processos sociais, investigamos a relação entre as bases materiais e ideológicas da economia solidária, que se referem à experiência dos sujeitos no contexto histórico dos países e à consciência desenvolvida pela retomada de matrizes teórico-políticas (socialista, anarquista e humanista-religiosa) da história de resistência e luta de trabalhadores. Com estas referências teóricas, este trabalho analisa o conflituoso e ambíguo processo de formação destes novos movimentos sociais, em experiências e narrativas de trabalhadores de organizações estudadas na pesquisa de campo em São Paulo e Buenos Aires. Diante da heterogeneidade de experiências, encontram-se indícios de que na Argentina esta formação se faz em um processo caracterizado, em grande parte, por relações políticas, com ênfase na autonomia e na igualdade. Em contraste, o sentido predominante no Brasil é de um processo educativo, que em certos momentos assume o caráter de formação política fundacional, e em outros, de manutenção de relações de dependência e contenção social. Analisar o processo de autofazer-se, entre a autonomia e a dependência, de movimentos sociais de economia solidária na história destes dois países, expõe limites e potencialidades, e indica questões para a reflexão e atuação na academia e na sociedade atual.